quarta-feira, 18 de maio de 2016

Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim: 
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras haviam sido roubadas — as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas — e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!” 

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. 

E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!”. 

Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. 

E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”. 

Assim me tornei louco. E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós. 


Do livro “O Louco” de Gibran 



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