quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Desde a Aurora
Como um sol de polpa escura 
para levar à boca, 
eis as mãos: 
procuram-te desde o chão,
entre os veios do sono
e da memória procuram-te:
à vertigem do ar
abrem as portas:
vai entrar o vento ou o violento
aroma de uma candeia,
e subitamente a ferida
recomeça a sangrar:
é tempo de colher: a noite
iluminou-se bago a bago: vais surgir
para beber de um trago
como um grito contra o muro.
Sou eu, desde a aurora,
eu — a terra — que te procuro.

Eugénio de Andrade


Sem comentários:

Enviar um comentário