sábado, 23 de dezembro de 2017

Eu sou a que no mundo anda perdida, 
Eu sou a que na vida não tem norte, 
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte 
Sou a crucificada… a dolorida…

Sombra de névoa ténue e esvaecida, 
E que o destino amargo, triste e forte, 
Impele brutalmente para a morte! 
Alma de luto sempre incompreendida!…

Sou aquela que passa e ninguém vê… 
Sou a que chamam triste sem o ser… 
Sou a que chora sem saber porquê…

Sou talvez a visão que Alguém sonhou, 
Alguém que veio ao mundo pra me ver 
E que nunca na vida me encontrou!

[Florbela Espanca, Livro de mágoas]


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